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terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Maranhense vira homem-placa e roda o Brasil de carona à procura do filho


  Atadas a uma mochila por um cordão bege, duas folhas plastificadas exibem fotos de um rapaz de pele e cabelo negros. Uma das imagens pende sobre o peito do maranhense José Ribamar de Fátima Rodrigues, 60. A outra lhe cobre parte das costas.

  Ele veste uma camisa azul e tem os pés metidos em sapatilhas desbotadas. No vaivém da praça da Sé, um tímido e franzino José –incapaz de se acostumar com o clima da capital – enverga as fotos como se fosse um homem-placa.

  No retrato maior, Cleilton, 29, tem os olhos estalados. No menor, um raro momento em que aparece sorrindo. Os cartazes que passam despercebidos na multidão estampam a dor do pai de dez filhos.

  No topo da placa, em letras maiúsculas, está a razão para José ter esquecido do próprio aniversário, em 12 de julho, o primeiro que passou longe da família: DESAPARECIDO.

  De janeiro a outubro deste ano, 21.913 boletins de ocorrência de desaparecimento foram registrados no Estado de São Paulo. Isso equivale a três pessoas por hora que perdem o convívio com suas famílias. De janeiro de 2013 a dezembro de 2015, eram dois os desaparecidos por hora em São Paulo.

  Na casa dos Rodrigues tudo se tornou confusão em 11 de março deste ano, quando a notícia do sumiço de Cleilton chegou por telefone à residência do patriarca em Timon, cidade com 165 mil habitantes no Maranhão.

  Cleilton estava na casa do irmão mais velho, Wilson, 42, em Guariba (a 340 km de SP). Sumiu um dia depois de ser visto chorando no trabalho.

  O primogênito descobriu que o pranto, a insônia e a mania de perseguição do irmão eram mais que saudade e mau humor. No cartaz de José, a explicação: "Ele sofre de esquizofrenia e depressão".

  Por 20 dias, esperou notícias do filho. Em abril, o ex-soldador, que mantém uma casa com oito pessoas com um salário mínimo, pegou um empréstimo de R$ 4.000 para procurar o filho, a pé, pelas estradas do Brasil.

 "A estrada pode ser boa para quem anda passeando, mas não para quem está com um trabalho feito o meu."

  Foi na quarta maior rodovia do país, a BR-153, que vai do Pará até o Rio Grande do Sul, que José enfrentou o primeiro de incontáveis preconceitos. O caminhoneiro Ronaldo Carlos, 42, que lhe deu carona do Tocantins a Minas Gerais, viu quando confundiram José com um mendigo.

  "Não viram um pai desesperado, mas um homem tirando proveito de uma deficiência." José diz que perdeu a mão e parte do braço esquerdo aos 13 anos, quando uma granada achada no mato explodiu na sua frente.

  "Aprendi a não ter expectativa. Quanto mais a gente acredita, pior é a dor quando vê que não é." A realidade é o maior tormento de José. "Não é doído isso? Não dá pra deixar de procurar um filho... É para o resto da vida." O maranhense continua à procura do filho.
                             
Fonte: Folha São Paulo

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